segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Sete e o Luto


Dezenove de dezembro. Sete anos se passaram desde a morte do Noah e ainda não sei como cheguei até aqui. Como consegui sair daquele cemitério ainda é um enigma para mim. Como caminhei até 2021?

A verdade é que nunca houve outro caminho, a não ser seguir e enfrentar aquele enorme abismo que se abriu em minha frente após meu mundo ruir.

A gente não supera a morte de um filho. A gente sobrevive.

Engana-se quem acredita que o luto tem prazo de validade, com começo e fim, que segue um traço linear e previsível enquanto avança etapas.

O luto materno é perpétuo e ainda que passem anos desde o dia da despedida, continua pulsando ativa e dolorosamente.

Ele está presente no espaço vazio na mesa de jantar.

Na ausência do bolo de aniversário.

Na formatura da pré-escolinha que nunca existiu.

No álbum vazio e no cobertor herdado ainda sem uso.

No túmulo sem flores.

O luto perdura no medo constante de que algo aconteça com meu caçulinha.

No julgamento desnecessário.

Na solidão do irmão no parquinho.

No fracasso em perdoar meu corpo.

No soco no estômago que a realidade de um novo dia traz consigo.

Nos comentários desprovidos de empatia.

No desconforto de quem quis saber quantos filhos eu tenho.

No meu olhar desolado ao escutar que o meu filho mais novo precisa de um irmão.

O luto remanesce no esquecimento de quem um dia se importou.

No nome que já não é mais pronunciado.

Na ausência de carinho com a memória de quem partiu.


O luto está na saudade que eu sinto do Noah e é na tristeza que encontro a única forma tangível de ter meu filho por perto.


O amor é o que fica e, assim como o luto, é infindo. 


Foto tirada pelo vovô em uma das muitas visitas que ele costumava fazer ao cemitério.


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