Após a morte de um filho o maior medo de um pai é o esquecimento, em especial quando seu filho parte tão pequenino que nem teve tempo para deixar grandes marcas no mundo.
Quando o Noah morreu, ele tinha apenas 20 dias de vida.
Não tenho fotos de sua carinha, nem roupas com seu cheiro... Mas lembro perfeitamente dos contornos de seu corpo, o calor da sua pele lisinha e seus trejeitos de menino peralta dando ‘cambalhotas’ na incubadora ao ouvir a minha voz.
Sou mãe e posso afirmar que ele está presente em todos os meus dias, mesmo que eu não possa mais desfrutar da sua deliciosa presença física há quase dois anos, eu sinto meu filhote perto de mim o tempo todo. Seja na borboleta que insiste em pousar ao meu lado, seja na roupinha de menino sapeca exposta na vitrine de uma loja infantil... eu sempre converso com ele, lembro do que vivemos juntos, choro, sorrio e crio memórias novas imaginando como ele teria sido... é um dos papos mais gostosos que tenho com o paizinho dele... podemos ficar horas imaginando...
Mas para o mundo eu sei que não é assim e temo que meu bebê seja esquecido, que sua memória seja apagada pela rotina. Por isso, continuo a falar dele, a lembrar dele e a contar a todos sobre sua existência.
Sua passagem por este mundo foi breve, mas deixou marcas expressivas e grandiosas em minha vida, ele merece ser lembrado!
Se você tem uma mãe ou um pai enlutado em sua vida e não sabe o que fazer para ajudar, deixo mais uma preciosa dica: lembre-se de nossos filhos. Fale deles. Não tenha medo, pois este é o presente mais precioso que você pode nos dar.
Abaixo a tradução de um texto da Emily Long, bem curtinho, mas cheio de amor, que descreve tão bem este pedido de uma mãe enlutada.
Lembre-se
deles
12 de agosto de 2016 por Emily Long*
Tradução/Translation: Roberta Modulo
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother to an angel called Noah)
Contato: contato@robertamodulo.com.br
Recentemente alguém me perguntou se havia alguma coisa, algo
unicamente importante, que eu gostaria de pedir às pessoas em relação à morte e
o luto por minhas filhas.
Fiquei surpresa em ver como minha resposta veio fácil – há muitas
coisas importantes que eu poderia ter dito, mas esta rapidamente surgiu como a
mais importante:
Lembre-se que elas viveram.
Lembre-se que sou sua mãe.
Lembre-se que elas foram e são amadas.
Para mim, além da ausência delas,
minha maior dor é o medo que elas sejam esquecidas. Perdidas entre o tempo e
espaço. Pois há tão pouca prova física de que elas estiveram aqui, até a
memória delas desaparecerá para todos, exceto para mim.
Então, por favor, lembre-se delas.
Não apenas quando o sofrimento é
recente e novo. Lembre-se delas mesmo que anos e décadas tenham se passado e
elas ainda assim, terão partido.
Lembre-se que elas viveram.
Lembre-se que eu as carreguei.
Lembre-se que eu sou sua mãe –
naquele momento, agora, sempre. Mesmo quando eu tiver 90 anos e me preparando
para deixar esta Terra, elas ainda serão minhas e eu serei delas.
Lembre-se que elas foram e são e
serão para sempre amadas.
Para sempre.
* Sobre Emily Long
Emily é mãe de duas filhas que partiram muito cedo. Na faculdade, ela vivenciou a morte de seu noivo. Alguns meses depois, sua filha, Grace, nasceu sem vida. Depois de muito anos, Emily finalmente procurou apoio e criou uma comunidade que a ajudou a encontrar beleza na vida novamente, após suas perdas. Quando sofreu o aborto de sua segunda filha, Lily, fornecer apoio para outros pais em luto tornou-se uma paixão e uma missão. Emily é psicoterapeuta de apoio ao sofrimento e defensora das famílias que sofrem a perda de seus filhos. Ela tem interesse em trabalhar com mães sem filhos vivos e é autora do livro “Invisible Mothers” (Mães Invisíveis).
Emily acrescenta ao seu trabalho com famílias em sofrimento, o equilíbrio entre experiência pessoal e profissional. Além de promover apoio individual às mães e pais em luto, Emily se esforça para instruir e melhorar o cuidado às mães em luto por profissionais da saúde e outros psicoterapeutas. Ela escreve e instrui através de seu website http://emilyrlong.com.