sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Lembro quando...


Escolhi esse texto porque ele ‘falou’ comigo. 
Infelizmente as memórias narradas pela autora descrevem perfeitamente minha nova vida.  
Certas coisas são impossíveis de esquecer e não estou nem na metade deste caminho lembrado por Alex Hopper, sei que o Rika e eu não somos os únicos nessa jornada silenciosa. 
Mas é confortante saber que há vida após o sofrimento e agradeço por ter alguém com quem eu possa dividir esse caminho de dor pela morte do nosso filho, mas também de gratidão por ter tido sua presença nesse mundo durante sua curta, mas preciosa, vida.

Noah e Rika - eu amo vocês!



Lembro quando…
20 de Julho de 2015, por 2015 Alex Hopper*

Tradução/Translation: Roberta Modulo 
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother of an angel called Noah)
e-mail: contato@robertamodulo.com.br



Lembro quando o mundo tinha possibilidades infinitas.
Lembro quando os sonhos poderiam se tornar realidade.
Lembro quando milagres aconteciam.
Lembro quando nós vimos o mundo ‘grávido’ de uma maneira que nunca havíamos visto antes.
Lembro quando nos apaixonamos.
Lembro quando nos sentimos abençoados.
Lembro quando nos sentimos seguros.
Lembro quando nós fizemos tudo certo.

Lembro quando tudo deu tão errado.
Lembro quando nós rezamos como nunca havíamos rezado antes.
Lembro quando nós acreditamos que daria tudo certo.
Lembro quando nossos corações foram despedaçados.
Lembro quando nós lutamos mais do que já havíamos lutado antes.
Lembro quando nós fomos tão fortes e tão fracos de uma só vez.
Lembro quando nós escolhemos a vida.
Lembro quando nós escolhemos o amor.

Lembro quando tudo aconteceu tão rápido.
Lembro quando nosso milagre nasceu.
Lembro quando o amor era o suficiente.
Lembro quando lindo não era o bastante para descrever.
Lembro quando alguém tão pequenino significava tanto.
Lembro quando o céu beijou a terra.
Lembro quando nós seguramos um anjo.
Lembro quando nós tivemos que devolvê-lo.

Lembro quando o mundo parou.
Lembro quando a noite caiu e só havia escuridão.
Lembro quando toda a esperança foi perdida.
Lembro quando a morte venceu.

Lembro quando amigos ficaram.
Lembro quando amigos partiram.
Lembro quando nós construímos paredes.
Lembro quando a solidão se instalou.
Lembro quando o sofrimento nos engoliu inteiros.

Lembro quando palavras foram ditas com descuido.
Lembro quando as pessoas esqueceram.
Lembro quando nós fomos traídos.
Lembro quando construímos muros mais altos.
Lembro quando nossas vidas paravam, e o mundo ainda girava.
Lembro quando tudo era cinza.
Lembro quando a alegria parecia ter partido para sempre.

Lembro quando nos tornamos mais fortes.
Lembro quando nós lutamos para ficar em pé sozinhos.
Lembro quando a névoa se dissipou.
Lembro quando a dor era insuportável.
Lembro quando nós estávamos paralisados pelo medo.
Lembro quando nós começamos a andar.
Lembro quando nós mantínhamos a esperança durante o sofrimento.
Lembro quando nós caminhávamos para frente, quando nós queríamos nos arrastar para dentro de um buraco.
Lembro quando nós carregamos um ao outro.
Lembro quando nós vimos cores novamente.
Lembro quando nossa nova vida começou.
Lembro quando nós redefinimos ‘normal’.
Lembro quando ninguém entendia.
Lembro quando lutamos para proteger nossos corações.
Lembro quando cuidamos de nós mesmos.
Lembro quando nós nos permitimos sofrer da maneira que fosse necessária.
Lembro quando nos encontramos novamente, surrados e quebrados, mas ainda vivos.
Lembro quando nós queríamos morrer.
Lembro quando escolhemos viver.

**Alex Hopper
Alex Hopper é uma escritora freelance que vive na Carolina do Norte. Ela é casada com Trent há 7 anos. O filho deles, Cyrus, foi diagnosticado com uma doença fatal rara, detectada durante o ultrassom de 12 semanas. Eles escolheram lutar pela vida dele e levá-lo com amor o quanto eles pudessem. Ele nasceu em 25 de novembro de 2013, às 33 semanas e viveu por preciosas 1 hora e 9 minutos. Eles estavam devastados com sua partida, mas gratos por sua vida e cientes de que ele jamais seria esquecido. Ele é o único filho do casal. Agora Alex escreve abertamente e honestamente sobre seu processo de luto e espera que suas palavras ajudem a outros a se sentirem menos sozinhos. Ela criou e escreve em Hope in the Heartache (aqui), e é escritora em All That Love Can Do (tudo o que o amor pode fazer).

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sobre o Dia dos Pais

Sobre o Dia dos Pais


Ontem, 09/08/2015, foi comemorado o dia dos pais no Brasil e como sempre, muitas fotos de pais e filhos preencheram as redes sociais.

Embora seja uma data feliz para muitos, outra parte da população não consegue desfrutar dessa alegria... e são esquecidos...

Filhos que cresceram sem seus pais... e pais que seguem sem seus filhos... os filhos continuam sendo filhos, e os pais continuam sendo pais, mesmo que seus amados tenham partido.

Meu carinho a todos vocês que se sentiram invisíveis ontem. 


Tradução: 

É preciso uma força invencível para tornar-se pai de uma criança que você não consegue mais segurar, ver, tocar ou ouvir. 
Você é um Papai Super-Herói.
Angela Miller

Uma Carta Aberta aos Entes Queridos de uma Mãe em Luto


Gostaria de acrescentar que todos os sentimentos descritos no texto, são vividos por uma mãe e por um pai enlutado.
Cada um sofre a perda de sua maneira, mas a dor no coração desses pais e mães, é algo indescritível.

Com carinho,

Roberta 


Uma carta aberta aos entes queridos de uma mãe em luto

5 de junho de 2015, por Franchesca Cox*

Texto original em/Source: http://stillstandingmag.com/2015/06/open-letter-loved-ones-grieving-mother/
Tradução/Translation: Roberta Modulo 
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother of an angel called Noah)
e-mail: contato@robertamodulo.com.br

Prezados Entes Queridos,

Eu sei que vocês têm boas intenções. Eu acredito em você. Eu acredito que você tenha as melhores intenções. Ela não é a mesma pessoa e isso provavelmente te assusta. Você lembra dela antes da perda, e você deve imaginar porque as coisas não voltam a ser como eram antes.

Você tenta consertar seu coração quebrado ao dizer coisas que você acha que a fariam sentir-se melhor, ou que no passado a fariam sorrir.

De certa maneira, suas palavras de consolo não estão resolvendo o problema. 

Ela deve estar te afastando. Eu te imploro – não leve pelo lado pessoal.

Ela mal sabe o que fazer com suas infinitas emoções, muito menos as suas. 

Então ela não está tentando te machucar, mas ela também não deve conhecer as melhores maneiras de expressar o quanto ela ainda precisa de você. 

Você sente saudade de sua risada.

Você sente falta das suas piadas e os papos sobre coisas triviais.

Você quer lembrar-se de seu filho junto dela, mas de alguma maneira – para você –pode parecer que ela esteja levando isso longe demais. 

Estou aqui para te pedir para que você a deixe. Não, não a abandone. Não é isso que eu estou falando. Muito pelo contrário.

Deixe-a ficar um pouco maluca. (Aliás, ela não é louca.) Ela está sofrendo com a morte de seu filho. Ela é a única pessoa em toda história do universo, que sente o total impacto dessa perda.

Ela está sozinha. Ela tem você, mas quer saber da verdade? Ela está fazendo isso sozinha.

Então, observe-a enquanto ela visita o cemitério (ou não). Vá com ela. Ela pode até dizer que você não precisa ir, mas não dê ouvidos. Ela pode não te agradecer por se juntar a ela, mas vá mesmo assim. Eu garanto que sua presença não passará despercebida.

Estude as coisas que de repente se tornaram importantes para ela.
Blogs, fóruns, grupos de apoio, anjos, asas, penas, borboletas, certas peças de bijuteria, músicas, cores, lugares. Não fique obcecado em pensar como é que você pôde se apaixonar por ela um dia.

Ela ainda está lá. Eu prometo.

Ela está fazendo o melhor que pode para remendar seu próprio coração, mas ninguém entregou a ela um manual sobre o que aconteceria quando o caixão fosse baixado.

Ela está improvisando, assim como você. E você a ama, então confie em mim quando eu digo, estou do seu lado também.

Ela derrama milhares de lágrimas por dia, sinta-se com sorte por ter visto apenas algumas. Ela sabe que você está cansado da sua tristeza. Ela sabe que você se importa, mas ela também está cansada de te ver irritado ao perceber que você não pode consertá-la.

Ela não parou de chorar. Ela apenas chora mais quando você não está por perto.

Então, ao invés de tentar consertar sua tristeza, da próxima vez, apenas escute. 

Nada que você diga ou faça ou compre pode fazer sua dor menos dolorosa.

Ela não está chorando para que você a conserte, ela está chorando porque ela não consegue evitar. Não tem nada a ver com você.

Você deve ter notado que ela vai de triste a deprimida a completamente nervosa e de volta a ficar triste, tudo em um dia. Eu sei que é assustador assistir alguém que amamos tornar-se alguém que quase não reconhecemos mais, mas o que ela mais precisa nesse momento é de seu amor e apoio incondicional e explícito. Ela precisa saber que está segura, não importa onde ela esteja.

E nós não estamos esquecendo sua dor, porque enquanto ela está se quebrando em milhões de pedaços, você está suportando a dor e o peso de sua dor, e ainda por cima, talvez se sentindo um pouco fora de lugar, se culpando por não ser capaz de fazê-la sentir-se melhor.

Admitir o quão devastador isso também tem sido para você, pode ser uma maneira construtiva de reunir após a perda. Considere abrir-se para ela. 

Acima de tudo, apoie-a. Em sua raiva, em sua tristeza, em sua depressão, em seu período de solidão, em sua confusão, quando ela vagueia, quando ela se distancia e quando ela se aproxima. Quase nada dificulta a cura mais do que o julgamento de pessoas amadas.

Ela vai sobreviver a isso.

Ela nem sempre será bombardeada pela dor mais intensa que o novo luto proporciona regularmente, mas ela jamais será a mesma.

E ela precisa que você aceite e fique bem com isso. 


* Sobre Franchesca Cox
Artista, iogue, maluca por saúde holística, html nerd, sobrevivente e próspera de vida. 
Criadora do Choosing Your Breath (Escolhendo Seu Fôlego) Workshop, se auto proclama #WildHeartSister e caçadora do pôr do sol texano. Instagram é o meu local de café na internet em @wildfeatherswellness

Recado de um pai em luto


Recado de um Pai em Luto

10 de agosto de 2015, por Roberta Modulo (mamãe orgulhosa do Noah)


Como é difícil lidar com pessoas em luto... nunca sabemos o que dizer, como agir, como confortar... na maioria das vezes nos distanciamos pois acreditamos que o melhor é dar ‘espaço’ para a pessoa enlutada. Quando na verdade, essa distância é egoísta, só beneficia a nós mesmos, deixando a pessoa em questão, solitária em seu sofrimento.

Até pouco tempo atrás, eu agia assim também. Evitava funerais, e sempre usava frases ‘clichés’ para confortar os enlutados. Porém, tudo mudou, e eu aprendi essa lição da maneira mais difícil, quando perdi meu filho.

Naquele dia percebi o quão importante é receber um abraço e a certeza de estar rodeada de amor. Nessa hora, não se preocupe em saber o que dizer. Nada que você disser vai amenizar a dor de quem está sofrendo. 

Pode ficar em silêncio.

Apenas esteja presente. 

Abrace com carinho. 

Mostre o quanto se importa com quem foi, e também com quem ficou.

Guarde suas crenças para você.

Guarde as frases prontas para você.

Não compare o sofrimento alheio com nenhuma outra situação.

Apenas, esteja presente.

E não se esqueça dos dias após a triste despedida. A vida das pessoas em luto nunca mais será a mesma. Continue presente. Preocupe-se. Telefone. Apareça.

Perder alguém já é algo muito doloroso. Parece que nunca estaremos preparados para lidar com a morte, e muito menos com a morte tão precoce como a de um filho que parte antes de seus pais. Não há conforto nessa hora.

Um pai em luto luta para continuar sua vida sem seu bem mais precioso, luta para manter viva a memória de seu filho...

Então, por favor, não finja que nada aconteceu... não evite falar o nome de meu filho... A ausência dele dói em nossa alma, e ignorar sua existência é ainda mais doloroso...

Reconheça a maternidade/paternidade desses pais. Quando um filho perde um pai, ele continua sendo filho, correto? Porque o pai que enterra seu filho perde o direito de paternidade/maternidade diante da sociedade? Somos pais invisíveis e solitários...

Então, ofereça seu amor, seu carinho, e ajude a manter viva a memória de quem partiu muito cedo.

E se as lágrimas começarem a cair, não se assuste.

Ofereça seu ombro, fique por perto e deixe com que as lágrimas caiam.

Porque dói.


Dói muito.


Círculos de Apoio


Círculos de Apoio

4 de março de 2014, por NATHALIE HIMMELRICH*

Tradução/Translation: Roberta Modulo 
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother of an angel called Noah)
e-mail: contato@robertamodulo.com.br


Em meu aconselhamento/prática de coaching, eu tenho usado uma técnica chamada ‘Neuro Relationship Therapy’, a qual utiliza um sistema de círculos.

Recentemente, um amigo meu me contou sobre este artigo aqui, onde eles usam os círculos em resposta ao ‘como não dizer a coisa errada’ quando alguém está gravemente doente.

Então, fiz uma adaptação, para ajudar as pessoas que apoiam os pais em luto a dizer e fazer o que é realmente prestativo.

O que você acha? (você também pode expressar sua opinião diretamente com a autora deste texto  aqui.


Círculos de Apoio



Confortar PARA DENTRO 

Deprimir PARA FORA

Em termos de ‘dizer a coisa certa’ há uma regra simples para seguir: Confortar PARA DENTRO, Deprimir PARA FORA.

O que isso significa? 

Imagine o casal em luto no centro dos círculos, sua família mais próxima, irmãos, avós no próximo circulo, amigos próximos no seguinte, outros amigos e colegas no próximo, conhecidos no próximo círculo, etc.

A regra diz que, seja onde você estiver, você oferece apoio às pessoas que estão nos círculos internos e você APENAS deprime (reclama, chora, protesta, diz coisas como ‘é tão injusto’ ou usa clichés como ‘foi melhor assim’) para pessoas dos círculos do lado de fora.

Confortar:

O que quer que você faça ou diga às pessoas que estão mais próximas ao centro do círculo precisa ser benéfico e deve oferecer conforto; caso contrário, não diga, ou não faça isso.
Ser solidário aos pais ou a família mais próxima é o melhor que você pode fazer por eles.

Três coisas simples para dizer:

Eu sinto muito pela sua perda.
Estou aqui para você.
Eu não sei o que dizer; estou sem palavras.

Independente do que você faça ou diga, lembre-se destas coisas: 

Reconheça os pais
Escute, mas não tente consertar
Incentive-os e lhes dê esperança
Pratique a arte da presença

Deprimir:

Deprimir é tudo aquilo que você faz ou diz que torna tudo mais difícil para os pais ou para as pessoas nos círculos mais próximos aos pais do que você:

Chorar excessivamente na frente deles
Lamentar-se, gemer, reclamar, comparar com outras perdas
Fazer comentários como ‘é injusto’, ‘por que você?’
Usar qualquer um desses clichés: ‘Foi da vontade de Deus’, ‘Foi melhor assim’, ‘Ao menos ele não sofreu’

Também, NÃO dê conselhos. Ainda que você sinta que já esteve na posição dos pais.

Lembre-se que não há problemas em chorar ou sentir que ‘é injusto’. Você pode até comentar com alguém sobre as perdas que você já vivenciou, mas diga isso a pessoas do seu círculo ou mais distantes. 


Sobre Nathalie Himmelrich
Nathalie Himmelrich é a autora do novo livro GRIEVING PARENTS - Surviving Loss As A Couple (Pais em Luto – Sobrevivendo à perda como casal). Como conselheira de relacionamentos e especialista em recuperação do sofrimento, e mãe em luto, ela acredita que o relacionamento (íntimo ou de apoio à outras pessoas) são a base para uma experiência de luto saudável. O livro é sobre sobreviver a perda como um casal e o renascer da dor em uma vida de alegria e melancolia, risos e lágrimas, alegria e tristeza. Não um ou outro, mas ambos.

Ela adora ajudar as pessoas a encontrar seu caminho de volta à vida de alegria, risos e felicidade através de seu papel de Conselheira & Orientadora Transformacional em sua empresa Reach for the Sky Counselling & Coaching (Alcance o Céu Aconselhamento & Orientação)

Sua paixão é escrever e reavaliar o comportamento humano e emoções. Ela está processando sua própria experiência, usando seu blog e você também pode ler o blog de sua filha, Ananda Mae, onde ela escreve cartas à sua irmã gêmea, que deixou seu corpo aos 3 dias de idade.

Se ela não está em sua mesa, você pode encontrar Nathalie no playground, correndo atrás de sua filha ou alimentando os patos no Lago Zurich, na Suíça, se Ananda Mae não conseguiu roubar todo o pão seco.
Encontre Nathalie aqui ou aqui