sexta-feira, 6 de maio de 2016

Lembre-se das Mães de Coração Partido


Este é o meu segundo dia das mães. É também a segunda vez que encaro esta data sem a presença física do meu filho, Noah, mas com a certeza absoluta de que ele está bem perto de mim.

A data deveria ser repleta de alegria, mas é cinza. Amarga. Sem graça.

Mesmo assim, preciso sobreviver a ela.

Como se não bastasse a dor que carregamos dentro do peito pela ausência de nossos filhos, nós, mães com o coração partido, ainda precisamos lidar com a desinformação de pessoas antes tão próximas e que hoje acreditam que o silêncio é a melhor alternativa. 

Não as julgo, pois antigamente eu também não saberia como lidar com esta situação, e peço perdão caso tenha ferido o sentimento de alguém quando optei pelo silêncio ao invés do conforto. 

Mas a vida me colocou nesta posição. Creio que meu filhote tinha sim uma missão nessa Terra, acredito que seu legado deva continuar vivo, um legado de amor, muito amor.

Então, escolhi disseminar o conhecimento que tenho adquirido, para que as pessoas aprendam com a morte, e não apenas a ignore. 

Para que as pessoas disseminem o amor, confortando umas as outras. 

Deixo aqui um pedido em meu nome, e em nome de todos os pais em luto: por favor, não nos ignore. Nem hoje, nem nunca.

Dispensamos seus conselhos e suas frases prontas, repletas de ‘pelo menos ele não sofreu’, ‘ele cumpriu seu tempo’,  ‘Deus precisava de outro anjo’ ou ‘Você terá outros filhos’... 

Mas aceitamos, de coração aberto, o seu carinho, seu abraço, seu reconhecimento e sua amizade. 

A tradução abaixo fala sobre como confortar uma mãe em luto nesse dia das mães. Escrito pela mãe de anjo Lexi Behrndt, originalmente em seu site Scribbles and Crumbs em 2015 e este ano publicado novamente na Still Standing Magazine

São sete pedidos muito simples, que toda mãe (e pai) em luto gostaria de fazer aos seus amigos e familiares.  

Espero que gostem.




7 Maneiras de Lembrar das Mães de Coração Partido neste Dia Das Mães


6 de Maio de 2016 por Lexi Behrndt


Tradução/Translation: Roberta Modulo (Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother to an angel called Noah)
e-mail: contato@robertamodulo.com.br


Neste Dia das Mães, lembre-se das mães de coração partido.

Lembre-se daquelas com o coração de mãe e nenhum filho para chamar de seu. 

Lembre-se daquelas com os braços dolorosamente vazios. 

Lembre-se daquelas com os olhos cansados de noites sem sono, sem conseguir dormir com saudade do pequenino que capturou seu coração de mãe no instante em que eles se conheceram. 

Lembre-se daquelas que nunca tiveram seus ‘primeiros’: primeiro sorriso, primeiro aniversário, primeiro dia de aula, nem mesmo os primeiros choros. 

Lembre-se daquelas que jamais ouvirão “mamãe” daqueles pequeninos lábios.   


Esta vida pode ser cruel, mas juntos, nós podemos torná-la um lugar seguro para as mamães com o coração partido neste Dia das Mães.

Se você tem uma mamãe com o coração partido em sua vida – pode ser uma amiga ou um familiar, faça com que este dia seja um pouco mais fácil para ela. 

Lembre-se dela. 

Reconheça-a.

Aqui estão sete maneiras de amá-la neste dia:

1. Se ela perdeu um filho, diga o nome de seu filho. 

Esta é a coisa mais importante que você pode fazer por ela neste dia: dizer o nome de seu filho. Diga seu apelido. Fale qualquer coisa que a faça entender que você está se lembrando de seu filho neste dia. Não importa quão desconfortável você se sinta, saiba que ela certamente não se esqueceu. Deixe com que ela saiba que você também não esqueceu. 

2. Se ela perdeu seu filho único, reconheça sua maternidade. 

Como minha querida amiga que perdeu sua filha de (quase) 4 anos disse esse ano: “Eu quero que as pessoas se lembrem que eu ainda sou mãe.”  Se ela perdeu seu filho único, ela certamente ainda é mãe, como sempre será, ainda que seu filho não esteja mais em seus braços. Por favor, lembre-se disso. Você não tem ideia do quanto o reconhecimento, até mesmo o menor de todos, pode amenizar o peso em seu coração. 

3. Mesmo que ela tenha outro filho, ainda assim a dor é muito real. 

Não importa quantos filhos ela tenha, isso jamais ameniza a dor de perder um ou mais filhos. Cada filho é único.  Cada um é insubstituível.

4. Reconheça seu coração de mãe. 

Para aquelas que desejam ser mães, mas enfrentam a infertilidade ou as coisas nunca deram certo, por favor, reconheça-as. Há mulheres caminhando por aí com filhos e filhas que não deram a luz, mas que elas amam como seus. Reconheça estas mamães. Faça com que saibam que elas são valorizadas e amadas.

5. Permita que ela esteja onde quiser neste dia. 

Ela pode não saber o que será mais benéfico – a distração de uma companhia ou a solidão. Reduza suas expectativas neste dia. Ela não está ‘louca’, ela está sofrendo. Tenha piedade. Tenha compreensão. Se ela quiser ficar chorosa e largada o dia todo, deixe que fique. Se ela decidir que será mais fácil não falar sobre isso, não pressione. Dê a ela a liberdade de ser quem ela é, e faça com que ela saiba que você irá amá-la, não importa em que maneira ela esteja.

6. Não faça suposições. 

Se você supõe que ela não gostaria de ser incluída em algum tipo de reunião, deixe-a decidir. Apenas aproxime-se. Ame-a. Convide-a. Receba-a e deixe que ela decida o que ela consegue encarar. Se ela escolher não vir, não leve isso pelo lado pessoal e saiba que ela está apenas tentando sobreviver a um dia difícil.

7. Ame-a. 

Talvez você more longe, envie um bilhete ou uma nota de 5 dólares para um café ou um sorvete. Se você está por perto, pergunte como você pode expressar seu amor por ela neste dia. Talvez ela queira participar de uma reunião familiar, certifique-se que ela saiba que é bem vinda. Talvez ela não queira sair de casa, convide-a para o jantar. Talvez ela queira se encher de porcarias e assistir Netflix de pijamas, jantando sorvete; ofereça-se para levar vinho e pipoca. Seja um amigo, e lembre-a que ela é amada.

Lembre-se dessas mães de coração partido. 

Com sua gentileza, seu amor e compaixão, elas podem enfrentar o mais difícil dos dias. 

Mostre que você se importa.


Noah pelos olhos de seu primo, Matheus.


segunda-feira, 2 de maio de 2016

Somos Todas Mães


Sinal de alerta no ar... Dia das mães se aproximando...

De todas as datas comemorativas, talvez esta seja a mais complicada para mim. 

Já ouvi dizer, inúmeras vezes, que o primeiro ano de luto é o mais difícil, pois nos deparamos com situações diversas, pela primeira vez. O primeiro Natal, o primeiro aniversário, o primeiro dia das mães e dos pais etc.

Depois, tudo ficaria mais fácil, pois eu já saberia o que estava por vir e poderia me preparar.

Mas esta 'regra' não funcionou para mim. 

É uma de minhas características (e não me orgulho disso) sofrer por antecipação. Em tudo. E assim, sofro duas vezes. Sempre.

Com a aproximação de datas especiais, eu sofro antes, durante e depois, e já ter passado por isso antes, não ameniza a minha dor. Pelo contrário, aumenta. 

Sim, porque sei exatamente o tamanho do vazio que carrego dentro do peito e quanta falta o Noah me faz todos os dias.

Datas comemorativas só intensificam a dor da saudade. 

Saber que não vou poder buscar meu indiozinho ou meu vampirinho na escola, não ansiar a chegada do Coelhinho da Páscoa ou Papai Noel, não enrolar brigadeiros ou embalar presentes... é devastador...

Se tudo é tão doloroso, porque será que o Dia das Mães seja tão complicado?

Porque além da ausência do meu filho, há o esquecimento. A falta de reconhecimento. As temidas frases ‘clichês’.  

É triste saber que a morte de um filho anula a maternidade da mãe e a paternidade do pai.

Mas não deveria ser assim. Não precisa ser assim. Afinal, somos todas mães. 

Abaixo a tradução do artigo escrito por Emily Long, que descreve lindamente a maternidade.


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Somos Todas Mães

30 de abril de 2015, por Emily Long*

Tradução/Translation: Roberta Modulo 
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother of an angel called Noah)
e-mail: contato@robertamodulo.com.br




Minha maternidade sem filhos não é tão diferente da sua, você que têm a alegria e o privilégio de criar seus filhos aqui na Terra.

Aparentemente, nossa maternidade parece ser diferente. 

A minha é raramente reconhecida pela sociedade em geral ou até mesmo por aqueles que estão próximos a mim. 

Minha casa é quieta e não há bagunça de brinquedos, ou roupas e sapatos espalhados. Minha agenda é preenchida por trabalho, amigos e tempo livre - que gira em torno dos meus interesses, ao invés de aulas de ballet, de futebol ou de música e atividades escolares. Eu posso sair com amigos ou viajar de última hora sem precisar me preocupar com babás ou creches. 

Meu Dia das Mães não será preenchido com um pequenino e criativo café da manhã na cama, ou cartões escritos em giz de cera, ou bracinhos ao redor do meu pescoço. Terei sorte se minha maternidade for ao menos reconhecida no Dia das Mães.

São essas as maneiras que tornam nossa maternidade diferente. Não invejo a sua versão de maternidade. Eu sou profundamente grata por você ter seu filho ao seu lado e não ter que entender a dor de dizer adeus para sempre. Tenho momentos de ciúmes e inveja quando desejo desesperadamente que eu pudesse conhecer a sua maternidade também, mas eu jamais desejo que você conhecesse a minha.

Apesar de nossas diferenças, também há muitas semelhanças em nossa experiência como mães. A força do amor profundo e avassalador que senti quando segurei o corpinho minúsculo de minha filha... Como eu olhei seu rosto e procurei por pequenos traços de mim mesma e de seu pai, em sua feição minúscula. Olhar para ela e me maravilhar com sua a perfeição, ainda que seu corpo estivesse parado e em silêncio, e pensar comigo mesma que nunca havia visto ninguém tão lindo.

E então, naqueles meses após seu nascimento e morte, eu também vivenciei noites sem dormir, choro sem fim e uma exaustão avassaladora. Exceto que eu experimentei noites sem dormir acordando apenas com os sonhos do choro de meu bebê, pulando da cama para pegá-la e então perceber que ela não estava lá. O interminável choro e lamento que explode das profundezas do meu sofrimento é por ela, ao invés de sua fome, sua solidão ou desconforto. 

Minha exaustão veio da tentativa de dar sentido a um mundo no qual o impensável não era apenas possível, mas também real e estava acontecendo comigo.

Como você, eu também marco as etapas do desenvolvimento de minha filha. Talvez não exatamente como você, que tem uma criança que vive e respira, e pode acompanhar o cumprimento dessas etapas, mas da minha própria maneira. 

Eu marco as etapas do desenvolvimento de minha filha em minha mente, enquanto imagino como ela seria. Ela estaria engatinhando agora, ou talvez ela já estivesse andando. Eu a levaria para seu primeiro dia no jardim da infância, a sua primeira festa do pijama, à sua primeira festinha na escola. Eu a inscreveria nas aulas de música, futebol ou ginástica. Ela iria aprender a ler, aprenderia as capitais dos estados e, pelo amor de Deus, eu espero que ela fosse melhor em matemática do que eu.

Ao assistir as crianças ao meu redor, cada momento e a cada etapa alcançada, eu marco em minha mente e em meu coração, fico imaginando quem ela seria e como teria sido assisti-la alcançando essas etapas. Eu sinto aquela dorzinha por dentro enquanto imagino-a crescendo e tornando-se ela mesma, assim como outras mães contam que se sentem enquanto assistem seus filhos crescerem e tornarem-se eles mesmos e mais independentes. 

Nós duas pensamos, em nossa própria maneira, quem ele será/seria? Em quem ele se tornará/tornaria?

Todas as mães devem aprender a deixar seus filhos irem. 

Mães com filhos vivos deixam seus filhos partirem em pequenos momentos, ao longo do tempo. Seu primeiro dia de escola. Sua primeira festa do pijama. Quando eles entram no Ensino Médio. Quando eles têm seu primeiro encontro. Quando eles tiram sua carteira de motorista. O dia que eles vão morar sozinhos. O dia em que eles se casam. Quando eles têm seus próprios filhos. Aqueles momentos em que eles te observam envelhecer e começam a cuidar mais de você. Cada pequeno momento de desapego e confiança de que seus filhos estarão bem. Confiando em seus filhos ao navegarem pelo mundo, mais e mais independentes, contando cada vez menos do nosso auxílio.

Para mim, o desapego foi súbito e imprevisível. 

Veio de repente, e antes que eu entendesse o que estava acontecendo, ela partiu. Em um instante ela estava aqui e na sequência, fui forçada a dizer adeus para sempre. Naquele momento, e em todos os momentos desde então, eu tenho que acreditar que, onde quer que ela esteja agora, ela está bem e está encontrando seu caminho mesmo sem mim. Sou lembrada de meu desapego a todo instante que poderia ter sido e cada etapa não concluída de como sua vida teria sido ao meu lado.

Então, você entende que, de certa forma nossa experiência de maternidade é muito diferente. Mas, no entanto, não somos tão diferentes assim.

Nós amamos.

Nós cuidamos.

Nós choramos.

Nós sonhamos.

Nós honramos.

Nós imaginamos.

Nós nos perguntamos.

E todas nós devemos um dia deixá-los seguir.

Estamos nisso juntas, não importa como nossa maternidade pareça do lado de fora.

Porque somos mães.

Somos todas mães.


* Sobre Emily Long
Emily é mãe de duas filhas que partiram muito cedo.  Na faculdade, ela vivenciou a morte de seu noivo. Alguns meses depois, sua filha, Grace, nasceu sem vida. Depois de muito anos, Emily finalmente procurou apoio e criou uma comunidade que a ajudou a encontrar beleza na vida novamente, após suas perdas. Quando sofreu o aborto de sua segunda filha, Lily, fornecer apoio para outros pais em luto tornou-se uma paixão e uma missão. Emily é psicoterapeuta de apoio ao sofrimento e defensora das famílias que sofrem a perda de seus filhos. Ela tem interesse em trabalhar com mães sem filhos vivos e é autora do livro “Invisible Mothers” (Mães Invisíveis).
Emily acrescenta ao seu trabalho com famílias em sofrimento, o equilíbrio entre experiência pessoal e profissional. Além de promover apoio individual às mães e pais em luto, Emily se esforça para instruir e melhorar o cuidado às mães em luto por profissionais da saúde e outros psicoterapeutas. Ela escreve e instrui através de seu website http://emilyrlong.com.