segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Dois.Longos.Anos



Ainda não compreendo como sobrevivemos àquele dia. Onde encontramos forças para lidar com o inesperado, com tamanha dor que ecoa até os dias atuais e permanece doendo – dois anos depois.

Só sei que quando se perde tanto, a gente se agarra ao que tem – e agarra com força. 

Agarro-me com força à memória do Noah se amontoando dentro da minha barriga, toda vez que ouvia a voz do pai... a lembrança de seu corpinho ligeiro dentro da incubadora, sua boquinha pequenina e os olhos que procuravam por mim ao ouvir o som da minha voz.

Dono de perninhas e bracinhos longos e sapecas, pele lisinha e cabelo loirinho... assim era o Noah. 

Meu pequeno guerreiro, amor da minha vida. 

É preciso muita força para segurar firme e seguir em frente, sem nos render aos sentimentos de impotência que assombram os pensamentos de quem não pode mudar o passado. 

A verdade é que ele não está mais aqui e embora não possa mais cuidar nem proteger seu pequeno corpinho, tenho a obrigação de manter seu legado vivo e assim sentir que continuamos próximos, sem nunca esquecer de agradecer por tê-lo carregado dentro de mim, por ter conhecido seu lindo rostinho e poder levar dentro de meu coração, o maior amor do mundo!

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Seu Legado, Sua Luz

20 de Outubro de 2016, por Lexi Behrndt

Texto original em/Source: http://stillstandingmag.com/2016/10/your-legacy-your-light/
Tradução/Translation: Roberta Modulo 
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother to an angel called Noah)
Contato: contato@robertamodulo.com.br

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Não é esquecer,
Nem agir como se as cicatrizes não existissem,
Nem tentar não lembrar o seu rosto,
Ou a curva de seu sorriso.

Não é evitar
As dores,
As memórias que nunca terei,
O espaço entre nós.

É a luz de seu sorriso
Encontrando seu caminho até o meu,
E o fogo em seus olhos
Ateando fogo em minha alma.

Com amor.
Com compaixão.
Com bondade.
Com esperança.

É você
Seu legado, sua luz,
Seu nome, sua memória,
E o amor que nunca morre.

Você me deixou melhor.
Você me deixou mais corajosa.
Você me deixou mais amável.
Você me deixou
Com as melhores partes de você.

(Este artigo apareceu originalmente em Scribbles and Crumbs)

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Aprecie a Estação



O final de ano pode ser uma época muito difícil para quem está de luto. 


É complicado encontrar a 'medida' certa entre a alegria que sentimos ao estar junto de quem amamos e a saudade daqueles que partiram. Digo isso porque é exatamente assim que me sinto e aqui contei um pouquinho sobre isso... 

Sei que não estou sozinha e que muitos se sentem assim... então, vou deixar aqui a tradução que fiz de um artigo escrito por Henderson Lafond para a Still Standing Magazine, falando sobre Natal e as festas de fim de ano. 

Espero que o texto te ajude.

Se você tem alguém que está sofrendo com o luto nesta época, exercite a empatia. Não cobre a ‘felicidade’ desta pessoa num momento tão delicado. Respeite seus sentimentos e esteja sempre por perto.

Se for você quem está sofrendo com o luto, deixo o mesmo conselho. Respeite seus sentimentos e não cobre de si mesmo o impossível. Ria quando sentir vontade. Chore quando sentir que seu coração irá explodir. Cuide de si mesmo e não se importe com aparências.

A dor não vai durar para sempre e faz parte do processo de cura o respeito aos seus sentimentos. Fingir que o sofrimento não existe pode ser pior.

Certifique-se de que você tem o apoio necessário, família e amigos que realmente compreendam o que está passando são essenciais. E se você é um membro da família ou um amigo, não se preocupe com o que dizer – apenas esteja  presente.


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Aprecie a Estação

16 de novembro de 2016, por Henderson Lafond

Tradução/Translation: Roberta Modulo 
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother to an angel called Noah)
Contato: contato@robertamodulo.com.br


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E num piscar de olhos, nós estamos indo em direção a ‘mais maravilhosa época do ano’. Quando você já passou pela perda de um filho, os dias comuns não são mais os mesmos, muito menos as festas de fim de ano. A maior diferença está na pressão.

De repente, espera-se que vejamos família e amigos. Temos que vestir nosso sorriso, roupas bonitas e estar cheios de alegria natalina. Devemos espalhar amor e luz e doar um pouco de nós mesmos.

É a época do ano que estamos em contato com pessoas que normalmente não falamos ou não encontramos com frequência. Pessoas que talvez não saibam ou não vemos ‘desde então’. Temos que contar a história novamente, lidar com olhares de pena e responder às tentativas desorientadas de nos consolar e demonstrar empatia.

Ano passado foi meu primeiro período de festas após a perda de Madison e dizer que foi ‘difícil’ não começa nem a descrever como foi. O nascimento dela estava previsto para o período de Ação de Graças e como sou extremamente organizada, já havia planejado muitas coisas. Ela teria pijamas combinando, um enfeite com o nome dela e sua data de nascimento. Eu tinha um álbum no Pinterest dedicado a ideias para nosso cartão de natal.

E de repente tudo era diferente. Minha época do ano favorita tornou-se um pântano lamacento o qual tive que me arrastar rezando para que Janeiro chegasse logo.

Toda canção natalina me fazia chorar. Todas as luzes e decorações que eu geralmente mal podia esperar para ver, fizeram com que eu sentisse nada.  Eu não podia acreditar que alguém faria uma festa de natal, muito menos que nos convidaria para ir. O que exatamente estávamos comemorando? Eu estava cheia de ressentimento, pois minha filha não estava aqui e não conseguia enxergar além desse sentimento. 

Porque tínhamos um filho de três anos para nos preocupar, nós cumprimos com a formalidade. Compramos uma árvore, embrulhamos presentes, escondemos o duende (quase) todas as noites para que nosso filho o encontrasse na manhã seguinte. Acho que se dependesse da gente, meu marido e eu teríamos fugido para uma ilha ou teríamos ficado encolhidos dentro de casa até que as festas tivessem terminado. 

Todos nós chegamos ao período natalino em diferentes fases e estágios desta montanha russa da vida após a perda. Este ano será diferente do ano passado para mim e minha família, pois este é nosso segundo ano sem Madison. Não sei o que esperar, pois ainda não passei por isso e tudo bem. 

Seja este o seu primeiro ou o trigésimo primeiro, aprecie esta estação e seu luto independente de onde ele te levar. 

Esteja aberto aos seus sentimentos. 

Cuide de você mesmo. 

Faça o que te deixe confortável, nem mais, nem menos. 

Agarre-se à dor e à alegria da maneira que aparecem. 

Aprecie esta época independente do que ela te traga.




*Sobre Henderson Lafond

Henderson Lafond é esposa, sonhadora e mãe de três filhos de Mint Hill, Carolina do Norte. Seu segundo filho, uma menina chamada Madison Reid, nasceu sem vida em 17 de outubro de 2015. Através de seu luto, Henderson descobriu uma paixão em ajudar suas irmãs na perda e fundou Madison’s Closet (O armário de Madison) em 2 de abril de 2016. Sua missão é confortar e vestir mães que sofreram com a morte perinatal ao fornecer roupas doadas para ajudá-las a recuperar sua autoconfiança. Quando você tem algo bonito para usar, você se sente melhor. 

As mulheres que doam para Madison’s Closet fazem isso pensando nas mulheres que irão ajudar. Elas querem ajudar numa situação em que ficamos impotentes. Por favor, visite Madison’s Closet para saber mais sobre sua missão e também receber ou doar roupas. Henderson pode ser encontrada no Facebook, Twitter, Instagram ou The Huffington Post.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Mais um Natal


Nossa última selfie juntos

Natal e Ano Novo se aproximam. Uma época mágica, recheada de amor, gratidão pelo ano que passou e planos para o ano que inicia.

Dezembro também é o mês em que o vazio que existe em meu coração se intensifica, mas nem sempre foi assim.

Eu costumava amar este período do ano – comprar presentes, decorar a casa, montar a árvore (temos enfeites que nos acompanham desde o nosso primeiro Natal morando juntos... e lá se vão 14 deles!) ir para a cozinha fazer mil pratos diferentes, colocar um vestido fofo para comemorar, mesmo que estivéssemos apenas o Rika e eu em casa.

Pelo terceiro Natal consecutivo eu não sei o que é isso... para falar a verdade, nem sei por onde anda nossa árvore de Natal... é certo que está guardada em algum canto, pois mantenho a esperança de montá-la novamente um dia - este ano ainda não...

Noah partiu no dia 19 de dezembro, pertinho do Natal e para falar a verdade, o primeiro natal após a morte dele eu não senti muita coisa. Eu estava desnorteada, os antidepressivos não me deixavam sentir nada. Absolutamente nada.

Naquela época eu alugava a casa de uma amiga (quase irmã), um lugar incrível com espaço, muito verde, piscina e uma vista de tirar o fôlego. Mas dentro de mim, havia um vazio.

2014 foi um ano difícil e dezembro intensificou a dor, pois ‘celebrar’ um ano em que perdemos tanto parecia inútil. Pela primeira vez teríamos um Natal sem meu filho e minha sogrinha...

Lembro que não tinha vontade de fazer absolutamente nada e foi então que meu pai apareceu para ficar com a gente. Ele também não queria festa, mas assim como nós, ele queria ficar pertinho. Não teve ceia, não teve árvore, mas teve amor. Muito amor.

Na virada de ano, papai veio novamente e no dia seguinte, meu sogro também estava conosco. Emocionados, assistimos a queima de fogos, nos abraçamos à meia noite e no primeiro dia do ano aproveitamos o calor para fazer um churrasco vegano delicioso... ficamos juntos e ganhamos um presente lindo – a presença dos vovôs do Noah - os mais amados do mundo!

* Meu sogro Eduardo se refrescando na piscina,
* Papai imóvel para garantir o soninho do Brutus,
* Minha 'pancinha' pós Noah, ❤
* Nosso churrasco vegano.

Ano passado, já não estava tomando remédios e pude sentir a força da ‘pancada’ que esta época do ano me daria - então tivemos reforços! Pela primeira vez, em MUITOS anos, tivemos um Natal e Ano Novo com a família ‘completa’. Também não houve árvore, mas teve cerveja, pizza pronta como ‘ceia’ e estávamos todos juntos – mamãe, papai, sogro, irmãos, sobrinhos...

Teve muita confusão, casa cheia, bagunça e gratidão. Gratidão pela oportunidade de ter a família por perto, incrível como a dor nos une ainda mais, garantindo o amparo nos momentos difíceis.

Família reunida! 

Este ano o Natal será vazio novamente... papai está pertinho do Noah agora -  ele não vai mais chegar de surpresa, acelerando a moto e fazendo escândalo com a sirene na porta de casa.

Nunca poderia imaginar que aquele seria nosso último Natal juntos e sou grata por ter tido a oportunidade de passar o último Natal, Ano Novo, Carnaval e aniversário unidos como uma família de verdade.

Este ano teremos mais um Natal incompleto, mas com a certeza de que não haverá cobranças e sim bastante apoio, amor e carinho de nossa família.

Tenho fé que esta dor insuportável vai passar e um dia teremos uma árvore de natal em casa novamente. Mas enquanto este dia não chega, respeitarei meus sentimentos e serei grata por tudo o que tenho: uma linda família, um marido incrível e amigos que insistem em permanecer ao meu lado.


Se você precisa de ajuda para encarar este Natal ou então para ajudar alguém de luto neste período de festas, dê uma olhada nesse link aqui.