segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Lágrimas


Por tantas vezes privo minhas lágrimas de caírem livremente com receio de demonstrar minhas fraquezas ou momentos de tristeza... quando na verdade, elas são sagradas e falam com mais veemência do que milhares de palavras!

Às vezes as impeço de cair, por medo de que nunca cessem. Por outras, as deixo livre e elas lavam minha alma me preparando para o próximo ‘momento’ - um de cada vez.

Nunca sei se poderei controlá-las, mas aprendi a respeitá-las, já que são sagradas e fazem parte de um intenso e indestrutível laço de amor.


Há algo sagrado nas lágrimas.
Elas não são marca de fraqueza, mas de poder.
Elas falam com mais eloquência que dez mil línguas.
São mensageiras de uma dor excruciante...
E de um amor indescritível.
Washington Irving

 



quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Companheiros na Dor





Dor. Pânico. Impotência. Descrença. Desespero. Raiva. Incompreensão. Solidão. Tristeza.

São alguns dos muitos sentimentos que carrego comigo desde que o coraçãozinho dele parou de bater. 

Independente da idade ou das circunstâncias da morte, a despedida é sempre excruciante e NADA nesse mundo se assemelha à dor pela perda de um filho. Apenas um pai que já passou por isso consegue verdadeiramente compreender o que digo. 

A solidão é um sentimento constante, porque ser mãe de anjo é participar de um grupo bem restrito. Sei que poucos no mundo conhecerão este sofrimento e sou bastante grata por isso, visto que não desejo tamanha dor a ninguém. 

Esta semana recebi uma notícia que fez meu coração se entristecer e partir ao meio novamente. O Céu ganhou mais um anjo e a Terra mais uma mãe e um pai de anjo.

Pessoas queridas, que participaram de nosso luto de uma maneira muito especial e repentina - ouvindo nossa história com carinho e ajudando a eternizar nosso pequeno em nossas peles -  agora se despedem de sua pequenina.

Há cerca de um mês eu a peguei no colo e beijei muito sua bochechinha fofa – o primeiro (e único) bebezinho que peguei no colo desde a morte do Noah. 

E ela me ensinou que a vida ainda pode ser naturalmente bela, ela me fez sorrir com sua simpatia, aqueceu meu coração com seu jeitinho moleca. Uma bebê linda, risonha e sem dúvida alguma, muito amada.

Uma anjinha cuja história se assemelha muito com a do nosso Noah... filhotinha de pais unidos a um longo tempo, fruto de um lindo amor, criada com irmãos peludos e muito rock ‘n’ roll. 

Perfeitos demais para esse mundo.

Jamais encontraremos uma justificativa que acalente nossas almas e nossos corações dilacerados. Só nos resta manter seus legados de amor aqui na Terra enquanto nos esforçamos muito para que se orgulhem de nós, os pais guerreiros que eles escolheram a dedo. 

Amigos, se houvesse alguma coisa (qualquer coisa) que amenizasse esta dor da qual sou tão íntima, eu faria por vocês. Infelizmente, nada que eu fizer ou disser irá abrandar o sofrimento - e eu sinto MUITO por isso. Mesmo.

Nosso caminho é tortuoso e não cabe a mim lhes aconselhar, tampouco dizer por onde ir – eu também estou tentando encontrar as respostas para minhas perguntas.

Mas podemos caminhar juntos, lado a lado.  

Meu carinho, minha mão amiga e todo o meu amor é tudo o que posso lhes oferecer - e certamente é o que tenho de mais precioso.

Desejo que nossos anjos se encontrem e nos observem lá do alto. 

Desejo que vocês descubram a força que têm e que sejam ainda mais unidos. 

Desejo que vocês respeitem e protejam seus corações e seus sentimentos. 

Desejo que o AMOR triunfe em seus corações. 

Contem comigo para o que precisar. 

Vocês não estão sozinhos.

"A morte não me define – é a vida e este amor que me definem." 

******

Querido Pai Recém-Enlutado


27 de janeiro de 2016, por Angela Miller**

Tradução/Translation: Roberta Modulo 
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother to an angel called Noah)


******
                                

Essa será provavelmente a coisa mais difícil que você fará. Sobreviver a isso. E um dia, talvez, até florescer novamente. 

Às vezes vai parecer praticamente impossível. Você irá se perguntar como um ser humano consegue sobreviver à tamanha dor. Então, vai perceber que já sabe como desafiar o impossível. Você o desafiou no momento em que o coração de seu filho parou e o seu continuou a bater. Você o desafia a cada vez que respira e a cada passo que você dá. Você o desafia agora. E agora. E agora.

As unhas de suas mãos ficarão ensanguentadas ao se arrastar para fora das profundezas do desespero. Seu espírito vai ficar exausto de lutar para sobreviver. Seus olhos irão chorar mais lágrimas do que você jamais imaginou ser possível. Seus braços vão doer uma dor para a qual não há palavras. Por uma vida inteira.

Seu coração vai quebrar em um milhão de pedacinhos bem pequenos. Você se pergunta se algum dia ele será remendado novamente.

Mas em cada pequeno pedaço desta dor indescritível, há amor. Uma fartura de amor. Um amor tão forte, tão poderoso, que irá te sustentar. Você não irá afundar.

Pessoas dirão coisas na intenção de serem úteis, mas não são. Pegue o que é, abandone o que não é.

Ainda assim, você encontrará outras pessoas ao longo de sua jornada que te entenderão sem que diga nada. Almas amáveis que irão te conduzir de volta à vida. Permita. 

Após anos nesta estrada você se cansará de ouvir os mesmos conselhos e frases prontas, de novo e de novo. Conselhos que você não quer ou não precisa. Todos tentarão encontrar a melhor maneira para ‘consertar’ seu coração partido. O problema é que você não precisa de conserto.

Não existe conserto para isso.

Um dia você aprenderá como carregar o peso desta dor. Ele vai te esmagar às vezes. Outras vezes você vai descobrir que pode suportar este fardo com garra e elegância. De qualquer maneira, você vai se adaptar a este peso.

Ele não vai te quebrar. Não por completo.

E ainda que você não acredite na esperança – mesmo que nem um pouco – a esperança iluminará o caminho para você. Às vezes você nem vai perceber que seu caminho está iluminado. A escuridão nos consome quando estamos dentro dela. Mas saiba que a luz está lá. Ao seu redor agora. E agora. E agora.  

Saiba que você está sendo guiado por todo nós, sobreviventes do impossível. Talvez você não nos escute, não nos veja, mas nós estamos com você. Ao seu lado. De mãos dadas. Coração com coração. Sempre. Assim como seu filho ainda está.

Acima de tudo, saiba que ninguém poderá te salvar além de você mesmo. Você é o herói/a heroína desta triste história. Você é quem decide como (e se) sobreviverá a tudo isso. Você é quem vai descobrir uma maneira de sobreviver às noites em claro e os dias sem fim. Você é quem vai decidir quando (e se) irá encontrar um objetivo que signifique alguma coisa para você. Você é quem vai decidir como viverá com a dor. Você é quem vai decidir em que se agarrar, o que fará sua vida valer a pena novamente. Você, só você, irá decidir como sobreviverá.

Ninguém pode fazer isso por você.

As pessoas falarão sobre “conclusão”, sobre “seguir em frente”, sobre “superação”, sobre o fim do sofrimento. Sorria gentilmente, e saiba que os que dizem este tipo de coisa nunca viveram esta coisa chamada dor.

Perder um filho é perder seu próprio coração e sua própria alma. É avassalador, desconcertante. Leva um longo, longo tempo para você se encontrar novamente. Leva muito tempo para cultivar uma vida nova ao redor do abismo de tamanha perda. Leva muito tempo para colher beleza de cinzas. 

Sempre haverá um buraco em seu coração, do tamanho e formato de seu filho. Ele é absolutamente insubstituível. Nada preencherá o vazio que ele deixou. Mas seu coração vai crescer lindamente ao redor do espaço vazio deixado por ele.

O amor e a dor que você carrega por seu precioso filho estará entrelaçado em cada pedacinho da trama que compõe seu ser. Te incentivará a fazer coisas que jamais sonhou serem possíveis.

Um dia, você irá descobrir como viver por vocês dois. Será lindo e será difícil.

Mas o amor que vocês dois compartilham vai te guiar. Você irá espalhar este amor onde quer que vá.

Um dia você será capaz de enxergar novamente. Um dia encontrará novamente o seu rumo. 

Um dia, você vai se dar conta de que... sobreviveu.


**Sobre Angela Miller

Angela Miller é escritora, palestrante e defensora do luto que oferece apoio e consolo aqueles que estão sofrendo a perda de um filho. Ela é autora de You Are the Mother Of All Mothers: A Message Of Hope For the Grieving Heart, fundadora da premiada comunidade online A Bed For My Heart, escreve para Open to Hope Foundation and Still Standing Magazine. Angela escreve francamente sobre a perda de filhos e o sofrimento, sem mascarar a realidade da vida após a perda. Seus textos e seu livro já apareceram na Forbes, Psychology Today, MPR, BlogTalk Radio, Open to Hope Radio and Writerly, entre outros. Quando ela não está escrevendo, viajando ou cuidando de corações, você encontra Angela aproveitando cada momento com seus dois lindos meninos de olhos azuis.