Há mais de um ano e meio convivo com a presença diária da saudade.
Em certos dias, sinto muito mais a falta do Noah. Em outros dias, a
saudade é tanta que paralisa meu corpo. São nesses dias que minha alma
se afunda nas lágrimas e só encontro forças quando me apego ao maior legado que meu filho
deixou: o amor.
Não há nada nesse
mundo que anule esse amor, nem a tristeza nem a morte irão triunfar diante de
um amor tão puro e profundo.
São nesses dias incrivelmente difíceis que eu me agarro a
este amor, este laço perpétuo que existe entre meu filho e eu. Só assim é
possível seguir em frente.
Foi em um dia desses, no começo de maio, que me deparei com
um lindo vídeo no Facebook. Uma das muitas páginas que sigo e falam sobre luto,
saudade e a perda de um filho postou este vídeo como parte de um projeto
maravilhoso chamado The Bereaved Mother’s Love Project (Projeto O Amor da Mãe
em Luto).
Imagens expressando a forma mais pura do amor e palavras que
tocaram a minha alma me motivaram a entrar em contato com a autora, Jessica
Snapp, mais uma mãe de anjo que busca espalhar o amor pelo mundo, enquanto
ajuda a remendar corações partidos.
Essa jornada tem me ensinado muito e tenho sido muito
agraciada pela amizade, mesmo que virtual, de pessoas em várias partes do
mundo. É como se fizéssemos parte de uma irmandade, de um grupo que não fazemos
questão de fazer parte, mas aqui estamos.
Jessi permitiu que eu traduzisse suas palavras, que estão
estampadas na Still Standing Magazine desde 2015.
Uma linda surpresa, palavras que descrevem com tamanha
exatidão o que passa dentro de meu coração confuso...
Tenho certeza de que há um laço invisível de amor que nos
une e que, de alguma maneira, nossos anjos estão juntos em suas nuvens, olhando
por nós e nos aproximando propositalmente.
O Amor de Uma Mãe Enlutada
12 de Outubro de 2015 por Jessi Snapp*
Texto original em/Source: http://stillstandingmag.com/2015/10/bereaved-mothers-love/
Tradução/Translation: Roberta Modulo
(Mamãe orgulhosa de um anjo chamado Noah / Proud mother to an angel called Noah)
Contato: contato@robertamodulo.com.br
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Existe um amor tão puro, tão terno, tão forte.
Um amor que transcende a vida e transborda dentro e fora de
outros reinos.
É mais alto do que as estrelas que preenchem os céus
iluminados pela lua.
Maior do que a própria Terra.
Mais profundo que os locais proibidos do oceano.
Um amor que irradia mais brilho do que o sol e que suga tão
impiedosamente quanto um buraco negro.
Um amor intransponível, em todos os aspectos.
É um amor que transcende o tempo e é completamente
infindável.
É livre.
Existe um amor tão sagrado, tão querido e verdadeiro.
Um amor que é incompreensível para o mundo ao seu redor.
Um amor que pode existir onde as pessoas acreditam que não
existiria.
Um amor tão perfeitamente enraizado nas profundezas de seu
coração, de sua alma.
Um amor que faz com que o resto do mundo pareça frio e cinza
porque a sua beleza e profundidade é incomparável.
E ao mesmo tempo, derrama uma beleza na terra nunca vista
antes.
Nada se compara a esse amor.
Este amor – sim, ele existe.
Ele existe e nós vivemos para contar a história de como ele
possa existir ainda que não possamos enxergá-lo.
Com pouca evidência tangível remanescente, ele ainda
sobrevive.
Ainda mais – ele prospera.
Ele cresce.
Mais e mais a cada dia este amor floresce e se alastra como
flores silvestres durante a primavera em um campo intocado.
Os rios deste amor nunca secam e as rajadas de seu vento
nunca cessam.
A profundeza e a intensidade deste amor são do tipo que você
só ouviu falar em contos de fadas e histórias de ‘viveram felizes para sempre’
– ainda que esteja presente em algo muito distante disso.
Este amor reside na incerteza e instabilidade.
Permanece em lágrimas silenciosas e braços dolorosamente
vazios.
É a luz no local mais isolado.
Ele vive para contar o conto do que foi e não é mais.
Este amor repousa nos irreparáveis pedaços de nossas almas e
nas feridas abertas de nossos corações despedaçados.
Ele se equilibra elegantemente com alegria nos lugares mais
escuros de desolação e desespero.
Mas ainda na escuridão, ele continua a crescer e se alegrar.
Ele é beleza e caos libertos em um mesmo fôlego.
Este amor – este amor imutável, inabalável, indestrutível –
é o amor de um coração partido.
Este amor pertence a uma mãe enlutada.
Pois mesmo na morte, ela ama infinitamente.
Ainda que na escuridão, seu amor é cintilante.
Nem a morte poderia extinguir este amor, pois é um amor como
nenhum outro.
Sem comparações e sem precedentes – é verdadeiramente único.
O lindo amor entre mãe e filho – colocado em teste e
esticado muito além do ponto de ruptura.
Ainda assim permanece intocado – apenas cresce mais forte a
cada esticada.
O mundo aguarda de braços cruzados o rompimento deste laço.
Para que a mãe enlutada o deixe partir – e desista.
Mal sabem eles que irão esperar por uma eternidade.
O amor de uma mãe enlutada é extremamente forte.
Uma força tão poderosa que nada fica em seu caminho.
Nem o tempo nem a morte podem mudar.
Nem a tristeza nem a dor podem quebrá-lo.
Este amor – é o nosso amor.
Ele sobrevive quando eles não sobreviveram.
É o amor que ocupa o espaço em nossos corações e em nossas
vidas onde eles estiveram.
Este amor reserva um espaço sagrado para eles.
Só existe porque eles viveram.
Permanece ainda que eles tenham partido.
Não é teoria nem ficção – é uma verdade inacreditável,
poderosa.
O amor de uma mãe enlutada é inacreditável, feroz,
interminável, que desafia todas as probabilidades.
Este amor se enraizou em cada célula de meu corpo e pulsa em
minhas veias com propósito e significado.
Este amor limpou minha alma.
Mudou meu ser.
Este amor ilumina o peso da perda.
Pois este amor torna a dor mais suportável.
Faz até com que, talvez, valha a pena.
A morte não me define – é a vida e este amor que me definem.
É este amor que mudou o curso da minha vida e me separou do
resto do mundo.
Este amor – é o meu amor.
E por toda a minha vida - eu jamais o deixarei partir.
É a única coisa que ata minha alma despedaçada.
Este amor – é o que me faz seguir em frente.
É o eco que ressoa em tudo o que eu faço.
E em tudo o que eu sou.
Não importa a distancia, não importa o tempo – este amor
prevalece.
E é meu.